Alceu Sebastião Costa

 

O menino de olhos verdes e cabelos louros,
Tinha bola, tinha pipa, tinha bicicleta, tinha tesouro;
O menino, que tinha beleza e muitos brinquedos,
Vivia infeliz, sisudo, refém dos seus medos;
O menino que vivia triste, sem amigos,
Saiu pelo mundo, inocente, correndo perigos;
O menino, que deixou os brinquedos e os medos para trás,
Descobriu que a cidade, no fundo, não é cinza, é lilás;
O menino, que inventou uma cor para seu novo lar,
Encontrou, na sarjeta, um motivo para roubar;
Protegido dos Anjos, que não deixavam o alimento lhe faltar,
Trombou com um moleque que pedia cola para cheirar;
O menino louro ensinou ao moleque uma simples lição,
Mostrou-lhe o prazer do sabor da manteiga no pão;
Levou-o ao mundo colorido dos melões e melancias,
Ensinou-o a rodar pião e nas suas voltas sentir alegrias;
O menino branco e o moleque negro inventaram fantasias;
Essa dupla é viciada em andar pelas ruas e becos,
São amados e respeitados, donos dos seus próprios segredos;
Têm uma aura especial de cores bem definidas,
Que irradiam na terra energias positivas;
Esses meninos são seres sagrados pela força Divina,
Na travessia do milênio, uma luz pequenina,
Ponto inicial de um foco de raio crescente,
Símbolo de uma nova ordem ora emergente;
Nenhum desses meninos possui valores materiais,
Apenas a consciência de diferentes, mas iguais;
Se perguntarem se os dois realmente existem,
Não respondam, apenas peço que meditem;
A reflexão é que nos leva a conhecer a verdade,
Cada um de nós carrega um pouco desses meninos,
Para vê-los basta ignorar a vaidade e cultivar a humildade,
Eles perambulam soltos pelo centro da cidade.
 

 

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