Fernando Pessoa

 

 

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

 

 

1888 - 1935

 

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Biografia

 


Fernando António Nogueira Pessoa, Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n. 4 do Largo de S. Carlos (hoje no Directório), em 13 de junho de 1888.

Filiação: Filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paternal do General Joaquim António de Araujo Pessoa, combatente das campanhas liberais , e de D. Dionísia Seabra ;neto materno do Conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto, e que foi director-geral do Ministério do Reino e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral - misto de fidalgos e de judeus.

Profissão: A designação mais própria será 'tradutor', a mais exata a de 'correspondente estrangeiro em casas comerciais'. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o Prémio Rainha Vitória de estilo inglês, na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação orgânicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver plebiscito entre regimes votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reacionário.

Posição Religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta de Israel ( a Santa Kabbalah ) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição Patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda inflitração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema:

"Tudo pela Humanidade;
nada contra a Nação".
Posição Social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo destas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos : a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.