Alphonsus de Guimarães

 

 

Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas
Para aliviar de Cristo os sofrimentos,
Cujas veias azuis parecem feitas
Da mesma essência astral dos olhos bentos;


Mãos de sonho e de crença, mãos afeitas
A guiar do moribundo os passos lentos,
E em séculos de fé, rosas desfeitas
Em hinos sobre as torres dos conventos;


Mãos a bordar o santo Escapulário,
Que revelastes, para quem padece,
O inefável consolo do Rosário;


Mãos ungidas no sangue da Coroa,
Deixai tombar sobre minh’ alma em prece
A benção que redime e que perdoa!

 

Todos os direitos reservados ao autor

 

(1870-1921)

 

 

 

Biografia

 

 

     Afonso Henrique da Costa Guimarães, conhecido como Alphonsus de Guimaraens (* 24 de julho de 1870, em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil - † 15 de julho de 1921, em Mariana, Minas Gerais, Brasil), foi um escritor brasileiro.

     Alphonsus de Guimaraens é um dos poetas mais originais de nossa literatura. A sua poesia é marcadamente mística e envolvida com religiosidade católica do autor. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que ele explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inadaptação ao mundo. Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina que é considerada um anjo, ou um ser celestial, por isso, Alphonsus de Guimaraens é neo-romântico e simbolista ao mesmo tempo, já que essas duas escolas possuem características semelhantes.

    Sua obra, predominantemente poética, consagrou-o como um dos principais autores simbolistas do Brasil. Em referência à cidade em que passou parte de sua vida, é também chamado de "o solitário de Mariana", a sua "torre de marfim do Simbolismo".

     Aos 17 anos o falecimento de uma prima amada, Constança, filha do escritor romântico Bernardo Guimarães, da qual se considerava noivo, encheu-o para sempre da obsessão pela morte. É possível que esse episódio de sua vida o tenha despertado para a poesia. Mais tarde, resolveu ir para São Paulo, a conselho médico, e aí se formou pela Faculdade de Direito. Antes de regressar a Minas, visitou o Rio, especialmente para conhecer Cruz e Sousa, a quem chamou de "cisne negro" como homenagem, pois havia ficado muito admirado com a poesia desse autor. Em 1908 foi nomeado juiz municipal de Mariana, onde exerceu a magistratura. Os seus hábitos reclusos e a solidão de espírito a que se entregou nessa cidade impulsionaram sua poesia mística e reflexiva, com merecido destaque para seu lirismo amoroso de esplêndida qualidade literária. Casou-se com Dona Zenaide e teve alguns filhos em Mariana e nesta cidade residiu até a sua morte.